Somos fracos, covardes e nos corrompemos por muito pouco. Desistimos de lutar pelo nosso ser, pela nossa essência, prefirimos lutar pelos outros, até quando viramos o espelho dos outros em nós. Substituímo-nos pela imagem alheia, porque ela é mais bela e atraente que a nossa, nos tornamos o reflexo do desejo do outro. E até quando vale a pena ser o que não somos?
Os outros tornam-se os alvos, os astros. Vivemos não para nós, mas para eles. E porque eles são mais importantes do que eu? Porque eu devo me abandonar pra seguir o caminho deles? Certamente não chegaríamos ao mesmo lugar. E porque o destino deles transparece tão mais atraente, mais convidativo? Talvez eles façam questão de deixá-lo atraente. Talvez tenhamos medo de seguir por um caminho solitário, a multidão traz confiança e certeza. Talvez tenhamos medo de sermos abandonados, por todos, e então, somos os primeiros a nos abandonar.
O medo, na maioria das vezes é o responsável por nossas escolhas mal feitas, por nossos erros: mentimos por medo das consequências que a verdade pode vir a trazer; deixamos de fazer aquele ato desejado por medo de não ser desejado pelo outro também; não nos arriscamos no presente por medo de como será o futuro; fazemos o que não gostaríamos e trilhamos caminhos indesejados por medo de ir contra os conceitos ditados pela sociedade. Mas não basta culpar apenas o medo, todos sentem medo, no entanto, todos vivem e convivem com ele. Mas a forma que você lida com seus medos, te define como pessoa.
No entanto, não é só o medo que nos faz nos abandonarmos. Geralmente, tem uma coisa que nos dá a falsa e ilusória necessidade de ser como o outro, ter o que o outro tem, afinal, "a grama do vizinho é sempre mais verde", a incômoda 'felicidade' alheia. Felicidade? Real ou inventada? Será que são mesmo tão perfeitos como parecem ou se fazem parecer? Será que a imagem que nos vendem de uma vida tão satisfeita é a realidade? Se pararmos pra pensar, a nossa grama deveria ser mais verde, só pelo fato de ser nossa. A nossa felicidade vale mais apena, porque é real, é tudo aquilo que conquistamos, que vivenciamos, pelo menos para aqueles que se permitem.
Não adianta tentar atingir ao seu ideal de vida perfeita baseado na vida perfeita que os outros demonstram ter, pois apenas o que conseguirá, será criar falsas alegrias, falsos amores, falsos desejos, falsos sorrisos, estará vivendo uma vida falsa como aquelas que a mídia faz passarem pelos nossos olhos a todo momento, poderá até conseguir estar no centro do palco, sobre as luzes dos holofotes, com toda a atenção voltada para você, mas, ao final de tudo, o que sobrará? A vida falsa que conseguiu alcançar. Terão sidos esforços vãos, e terá sido vão todo o resto. O tempo será vão, porque poderia ter sido gasto semeando o que realmente é importante e valioso na nossa vida, o que realmente nos pertence, poderia ter sido gasto dando valor a nossa grama, ao invés de estarmos observando e tentando alcançar a grama do vizinho.
Definitivamente, não vale apena. Talvez, se aprendêssemos a nos enxergar, nos entender e nos amar, exatamente como somos, com o que temos e, o mais importante, com quem temos, deixaríamos de priorizar o outro e passaríamos a nos ver perfeitos, sem precisar da luz alheia, porque podemos brilhar sozinhos, afinal, "o poder é transitório, os holofotes iluminam cenários diferentes". É preciso parar de desejar ser o outro, e buscar pelo que somos, mas para isso, é necessário que, antes, saibamos quem somos.
terça-feira, 19 de julho de 2011
domingo, 3 de julho de 2011
Os 5 sentidos fizeram-me sentir
Ficou no ar
Eu estava lá
Respirei e entendi
Preferi continuar
Me iludi
Fizeram questão
De me fazer engolir
Senti o gosto amargo
Mas preferi a omissão
No mesmo erro permaneci
Ouvi falarem
Soava a contração
Não acreditei
Fiz pirraça e disse: Não!
Continuaram, e eu deixei
Depois eu senti
Toquei e me arrependi
Descobri a frieza
Tanto descaso, tanta esperteza
Quanto a mim: chorei
Ainda com olhos molhados
Dei de cara com a desilusão
Vi de perto, fui obrigada a aceitar
Chegou a hora da redenção
Desaprendi a confiar.
sexta-feira, 27 de maio de 2011
Meu coração está em coma
Se encontra em inércia total, na iminência de falecer. Mas não quer ajuda, nem visitas. Prefere tentar se reerguer sozinho, acha mais fácil. Ainda não superou seu trauma dos sentimentos, não quer rever nem reatar laços. Um paradoxo, sem sentir, ele não pulsará, mas ainda assim, optou por continuar desse jeito, pelo tempo que conseguir. É uma pena, eu gostava dele pulsando aqui dentro, às vezes parava para ouví-lo, e me sentia completa, satisfeita. Gostava de ouvir suas palpitações, gostava de sentí-lo acelerar, num jorro de adrenalina. Mas agora, ele insiste em permanecer desligado de mim, talvez eu o tenha feito sofrer muito, peço desculpas, talvez seja só minha a culpa, por não ter sabido cuidar direito de suas feridas, antes de cicatrizá-las já ia causando mais e mais, até quando ele não suportou. Desde então, eu estou assim, na verdade, não sei exatamente como estou, ou não estou? Tenho apenas vagas e velhas lembranças de ser um ser com coração, lembro-me de como era bom, mas eu sentia suas dores como se fossem na minha própria carne, e às vezes doía mais que as dores da carne, mas agora, não sinto mais nada, nem dores, nem amores. Somos dois e nenhum, extremamente dependentes, mas com necessidade vital de se afastar.
domingo, 22 de maio de 2011
The pain and the love
Quando somos magoados, procuramos ao redor por uma saída, um alívio, mas o que enxergamos são as causas de nossas feridas. Não adianta, somos humanos, e nossas relações acontecem dessa forma, magoamos uns aos outros. Hoje, quem nos acolhe nos braços e nos conforta a alma, nos ajudando a aliviar as dores, amanhã causará dores maiores. Maiores, porque quando amamos, somos envolvidos por esse amor de tal maneira que acreditamos apenas na beleza que dele jorrará, mas esquecemos que nascerão dores também, e quando nosso coração é atingido por quem faz parte dele, a ferida demora mais pra cicatrizar, dói do mesmo jeito, mas a profundidade é maior. Certamente o perdão virá, porque onde há amor, há perdão, mas as marcas ficarão em nós eternamente. Seria bom se as coisas fossem mais simples, se um 'me desculpe', 'estou arrepedida' ou 'eu te amo' resolvessem tudo, mas não resolvem. E ainda assim, não é tão fácil pedir perdão, não é tão fácil acertar, não é tão fácil amar. Eu já fui atingida ferozmente por pessoas que amo, e talvez, já tenha as ferido muito mais. Já magoei por simples capricho, deixei de pedir perdão por orgulho, já fui indifirente e estúpida com quem menos merecia, já deixei de fazer a coisa certa por teimosia. Me arrependi, e aprendi, mas ainda assim, não parei de magoar, nem de ser magoada. Estaremos sempre vulneráveis às dores que o amor causará.
domingo, 8 de maio de 2011
Mãe
Primeiramente, obrigada por ter me dado a vida, sei que nove meses é muito tempo pra aguentar outro ser dentro de si, se mexendo, causando dores e desconforto. Obrigada por ter me recebido com todo carinho do lado de cá, sei que esse mundo não é tão receptivo e aconchegante pra um ser tão inocente e desprotegido, mas lá estava você, ao meu lado, pra me proteger e cuidar de mim durante todo o tempo. E quanto ao meu crescimento, não poderia ter sido mais saudável, sei que não pôde e ainda não pode me dar tudo que eu desejo, mas o que eu mais precisei, você sempre me deu de montão, amor, e isso não há nada que pague. Obrigada mãe, por me impor limites quando foi preciso. Obrigada por sua coragem e determinação em me proporcionar uma boa educação e principalmente em me tornar uma pessoa amorosa, humilde e de boa índole. Ah, desculpa se às vezes lhe causo dores de cabeça, mas é que é difícil pra você entender minhas razões, como é pra mim entender as suas de vez em quando. Mas depois, nada disso importa, porque amor de mãe e filho é maior que tudo. Talvez eu não viva dizendo “Eu te amo”, mas eu tenho outras formas únicas de demonstrar meu amor, e eu sei que você as percebe, porque eu também percebo as suas. Quando há uma grande ligação entre duas pessoas, não é preciso muito pra que elas se decifrem, com pequenos gestos tudo é revelado entre elas. Assim é entre eu e você.
Esta é minha homenagem a todas as mães, e a minha em especial.
E pras minhas outras mães, que não me gestaram, mas que cuidam de mim como se o tivessem feito, também gostaria de dizer obrigada.
E pras minhas outras mães, que não me gestaram, mas que cuidam de mim como se o tivessem feito, também gostaria de dizer obrigada.
quinta-feira, 31 de março de 2011
Margarida
Nina,
Eu sempre te dei tudo que eu podia, eu sempre me dei por inteiro pra você, mas acho que não foi suficiente. Você era a minha Margarida, a que nunca iria perder a inocência de criança. Mas seus inocentes olhos brilhavam diferentes, não tinham a mesma luz quando me viam. Suas promessas soavam culpadas. Sua boca não pedia mais a minha com tanta freqüência. Suas pétalas foram divididas, o meu bem-me-quer não queria mais apenas a mim. O cheiro do nosso amor era também de outro. Quando você proferiu essa confissão devastadora, foi como um temporal de dor, em que cada gota me atravessava de forma cortante, quis chorar, minha garganta deu um nó, eu saí pra deixar minhas lágrimas se expressarem, já que eu não havia conseguido fazer o mesmo. Aquela foi a primeira lágrima de dor derramada por amor. Senti raiva de mim por te querer tanto, por te amar tanto. Mas sinto muito, meu amor não é tão grande quanto o seu a ponto de dividi-la com outra pessoa. Se me ama, que ame apenas a mim, como eu te amei todo esse tempo, fielmente e unicamente a ti. Mas por favor, não me peça para que eu te compreenda, não me peça para ter paciência. Definitivamente não vou aceitar mais sofrer tanto assim. Suportei até onde pude, mas agora meu coração implora por uma saída, ouço seus gritos de desespero, sinto o sangue jorrando dolorosamente. Será que não entende? Você só está piorando as coisas me iludindo assim, eu preciso de sua decisão. Eu preciso me desvencilhar de você completamente, mas só vou conseguir quando você me libertar. Não há mais como você me poupar do sofrimento, afinal não há dor pior do que esperar ansiosamente e esperançosamente por uma resposta que nunca chega, então que seja fatal, eu me acostumarei a viver vazio, e quanto à dor, esta produzirá anestesia própria.
Pedro.
Texto para o Blorkutando - Tema 131ª Semana "O Triângulo"
sábado, 19 de março de 2011
Se relacionar é amar
Amar. A – M – A – R. Como diria Carlos Drummond de Andrade: verbo intransitivo. Aquele que não necessita de nada para o completar, que faz sentido sozinho. É engraçado como o amor está presente em tudo, faz parte da nossa vida, do nosso ser, do nosso existir. Combustão. Ação e Reação. Simetria. Tudo é amor. É um olhar disfarçado que se perde ao encontrar outro olhar. É um gesto distraído de carinho. É a alegria que exala ao encontrarmos alguém que amamos e sentir a reciprocidade de sentimentos. O coração fervendo de calor. Palpitações estranhas. Um sorriso singelo. Um gosto espetacularmente bom de sentir-se querido. Um desejo incontrolável de querer. É se sentir vivo, dar adeus à inércia. O amor é o sentimento mais sublime, mais simples, franco, compassível, natural, tênue e ingênuo do universo. Não há nada de complexo no amor, toda a complexidade é inventada por nós, porque estamos acostumados a acreditar e venerar coisas que fazem sentido, que possam ser explicadas, observadas e comprovadas cientificamente. O amor não é assim, não podemos conceituá-lo, classificá-lo, amar é estar sujeito ao incompreensível. Relacionamos-nos a todo o momento, interagimos com o mundo a partir de relacionamentos, e qualquer relacionamento baseado nas veredas do carinho, afeto, respeito, lealdade, é amor. Por que gastamos tanto tempo tentando diferenciá-lo da paixão? Tentando dividi-lo em ágape, eros, storgé, philos? O amor é amor e só. Só? É mais que o bastante. Como um verbo intransitivo.
Anyele Matos
Texto para a 14ª edição De-sa-fio - Projeto Créativité
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