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quinta-feira, 31 de março de 2011

Margarida



Nina,

Eu sempre te dei tudo que eu podia, eu sempre me dei por inteiro pra você, mas acho que não foi suficiente. Você era a minha Margarida, a que nunca iria perder a inocência de criança. Mas seus inocentes olhos brilhavam diferentes, não tinham a mesma luz quando me viam. Suas promessas soavam culpadas. Sua boca não pedia mais a minha com tanta freqüência. Suas pétalas foram divididas, o meu bem-me-quer não queria mais apenas a mim. O cheiro do nosso amor era também de outro. Quando você proferiu essa confissão devastadora, foi como um temporal de dor, em que cada gota me atravessava de forma cortante, quis chorar, minha garganta deu um nó, eu saí pra deixar minhas lágrimas se expressarem, já que eu não havia conseguido fazer o mesmo. Aquela foi a primeira lágrima de dor derramada por amor. Senti raiva de mim por te querer tanto, por te amar tanto. Mas sinto muito, meu amor não é tão grande quanto o seu a ponto de dividi-la com outra pessoa. Se me ama, que ame apenas a mim, como eu te amei todo esse tempo, fielmente e unicamente a ti. Mas por favor, não me peça para que eu te compreenda, não me peça para ter paciência. Definitivamente não vou aceitar mais sofrer tanto assim. Suportei até onde pude, mas agora meu coração implora por uma saída, ouço seus gritos de desespero, sinto o sangue jorrando dolorosamente. Será que não entende? Você só está piorando as coisas me iludindo assim, eu preciso de sua decisão. Eu preciso me desvencilhar de você completamente, mas só vou conseguir quando você me libertar. Não há mais como você me poupar do sofrimento, afinal não há dor pior do que esperar ansiosamente e esperançosamente por uma resposta que nunca chega, então que seja fatal, eu me acostumarei a viver vazio, e quanto à dor, esta produzirá anestesia própria.

 Pedro.


 Texto para o Blorkutando - Tema 131ª Semana "O Triângulo"

sábado, 19 de março de 2011

Se relacionar é amar

 

Amar. A – M – A – R. Como diria Carlos Drummond de Andrade: verbo intransitivo. Aquele que não necessita de nada para o completar, que faz sentido sozinho. É engraçado como o amor está presente em tudo, faz parte da nossa vida, do nosso ser, do nosso existir. Combustão. Ação e Reação.  Simetria. Tudo é amor. É um olhar disfarçado que se perde ao encontrar outro olhar. É um gesto distraído de carinho. É a alegria que exala ao encontrarmos alguém que amamos e sentir a reciprocidade de sentimentos. O coração fervendo de calor. Palpitações estranhas. Um sorriso singelo. Um gosto espetacularmente bom de sentir-se querido. Um desejo incontrolável de querer. É se sentir vivo, dar adeus à inércia. O amor é o sentimento mais sublime, mais simples, franco, compassível, natural, tênue e ingênuo do universo. Não há nada de complexo no amor, toda a complexidade é inventada por nós, porque estamos acostumados a acreditar e venerar coisas que fazem sentido, que possam ser explicadas, observadas e comprovadas cientificamente. O amor não é assim, não podemos conceituá-lo, classificá-lo, amar é estar sujeito ao incompreensível. Relacionamos-nos a todo o momento, interagimos com o mundo a partir de relacionamentos, e qualquer relacionamento baseado nas veredas do carinho, afeto, respeito, lealdade, é amor. Por que gastamos tanto tempo tentando diferenciá-lo da paixão? Tentando dividi-lo em ágape, eros, storgé, philos? O amor é amor e só. Só? É mais que o bastante. Como um verbo intransitivo. 

Anyele Matos

Texto para a 14ª edição De-sa-fio - Projeto Créativité 

(Des)enlaçados



Querido Nick,
                    
Quando nossas vidas se uniram por um único fio, foi como se, finalmente, eu tivesse encontrado algo pra me prender ao chão, como se você fosse minha gravidade. E agora, estou eu novamente perambulado desordenadamente pelo universo. O nosso fio se rompeu.
Era impossível pra você entender. Eu não podia suprimir. Você me perguntava: por quê? Eu respondia que era por amor. Foi por amor que te envidei a viver sob meus domínios. Mas você não suportou minha ânsia de controle. Essa discrepância nos levou a um estado de intolerância insolúvel. Perdoe-me por meus ímpetos incontroláveis. Perdoe-me por minhas críticas indesejáveis. Perdoe-me por minhas decisões irremediáveis. Perdoe-me por nosso fim inevitável. E obrigada por me dar amor, mesmo quando não mereci, obrigada por ser paciente comigo o maior tempo que pôde, apesar do meu aziúme sem sentido. Saiba que você, só você conseguiu me amar de tal maneira que me fez sentir inteiramente completa, realizada. Sei que nunca mais existirá eu e você, juntos. Sei, porque fui ao enterro do nosso amor, e também joguei areia sob aquele sepulcro, com a lastimável certeza de que não haveria mais volta. Mas agora, só estou pedindo que me perdoe.
                                                                  
Da pessoa que mais te amou nesse mundo, Thaís.

Fase secreta: foi tudo culpa das minhas crises de ciúmes, eu sei.

Anyele Matos

Texto para a 14ª edição decodificando cartas - Projeto Créativité



sexta-feira, 18 de março de 2011

Os dois eus - o bondoso e o amargo

- Eu venho querendo conversar com você há algum tempo. Não sei ao certo quando isso aconteceu, mas definitivamente não é mais a mesma. Seus atos, seus pensamentos, seu coração, tudo em você está diferente. Você está mais indócil e cruel. Mas o que aconteceu? Eu gostava de você como era antes. Gostava daquela garota que tinha minha essência dentro de si, daquela doce garota, gentil e cativante – disse o eu bondoso.
- Você não consegue enxergar? O mundo me fez mudar, as pessoas me fizeram mudar. Elas transformaram a doçura dentro de mim, hoje estou completamente amarga – respondeu o eu descrente e agora amargo.
- Mas você não pode se igualar a elas – falou o eu bondoso.
- Por que não posso? – perguntou o eu amargo.
- Porque és diferente. Lembra? Lembra de quem eras? – respondeu o eu bondoso.
- Eu era diferente, mas não me importo mais se o mundo será melhor se eu for melhor. Fiz minha parte esse tempo inteiro e o que ganhei? Pedradas na cara das pessoas que eu mais confiava, daquelas que mascaravam a verdade atrás da hipocrisia – rebateu o eu amargo.
- Mas o mundo não é só isso. Existem pessoas boas como você, não pode deixar se corromper. Se você se entregar, se todos se entregarem, então será a vitória do mal – tentou convencê-lo o eu bondoso.
- Não existe mal ou bem. Existem apenas pessoas que se aproveitam da inocência das outras para fazer o mal. Por isso deixarei minha inocência de lado, presa no meu passado, já não basta tudo que sofri até aqui por insistir em carregá-la comigo. Quem me dera, ao menos uma vez, ter de volta todo o ouro que entreguei a quem conseguiu me convencer que era prova de amizade se alguém levasse embora até o que eu não tinha - respondeu convicto o eu amargo.
- Mas e as amizades verdadeiras? E as pessoas que te amam de verdade? Você deve ajudar a distribuir o amor pelo mundo, não perca as esperanças, o amor é a salvação, o amor é a saída – lutava o eu bondoso.
- Eu já acreditei no amor um dia. Eu já quis preencher o mundo com amor. Hoje, não mais. Estou cansada disso tudo, estou cansada de viver buscando o bem, um bem escasso, um bem inexistente. Quanto às pessoas que me amam de verdade, sei reconhecê-las e não deixarei de amá-las. Mas apenas comigo e com elas irei me importar. O resto nem meu ódio merecem, apenas desprezo. Estou cansada dessa humanidade sórdida e mesquinha, tão cansada que resolvi me meter no meio dela, como forma de proteção, de sobrevivência. Se o mundo está sendo plantado com hipocrisia, a exaltemos então: Viva a hipocrisia! E que reguemos muito mais merda do que já existe. Não me importo mais, porque nós somos a doença do mundo, nós causamos nossa própria destruição. Nos deram espelhos, e vimos um mundo doente – finalizou o eu amargo, completamente descrente da humanidade.

Anyele Matos
 
Texto para a edição C&F, dialogue e musical.
Projeto Créativité

Onde está o meu eu?

Não sabia como tinha chegado ali, mas eu estava num lugar estranho, parecia uma rua, cercada de pessoas que festejavam: jogavam papéis coloridos para o céu, espichavam uma substância branca e espumosa sobre as outras, dançavam e cantavam felizes com roupas volumosas e cheias de enfeites. Eu estava com uma roupa daquelas (não sei porque, mas estava), com uma máscara colorida e cheia daqueles papéis que voavam por cima de todos na minha cabeça. Aparentemente eu me encaixava perfeitamente naquele lugar, mas não me sentia assim, me sentia fora de órbita. Aquela multidão me sufocava. Aquelas pessoas esbanjavam felicidade, sorriam com naturalidade umas pras outras, se abraçavam com carinho, as emoções eram recíprocas. Tudo aquilo me incomodava. O choque com aquele ambiente desconhecido e com aquelas pessoas que eu nunca tinha visto, fizera eu me esquecer de tentar colocar meus pensamentos em ordem. Parei. Tentei. Os únicos pensamentos que me vinham à cabeça eram as dúvidas que jorravam desde que me deparei naquele lugar. Então algo começou a me incomodar mais que a multidão ao meu redor: percebi que não tinha lembranças, nenhuma. Algo começou a me incomodar mais do que eu não saber quem eram aquelas pessoas que olhavam para mim com feições alegres: eu não sabia quem eu era, não sabia quem havia dentro daquele corpo estranho que eu estava vendo. Eu havia esquecido tudo que eu vivera antes de chegar ali, comecei a me sentir como um bebê, sem nenhuma história pra contar, sem nenhuma alegria pra compartilhar, estava me sentindo como num campo minado onde qualquer passo explodiria uma mina. O desespero tomou conta de mim, eu queria sair dali, fugir, correr em busca de alguma lembrança, em busca do meu eu, talvez aquela sensação de desconhecimento de tudo fosse passageira, talvez eu reconhecesse minha família se eu os visse. Comecei a correr desesperadamente, corria, corria, não conseguia encontrar o fim da rua, uma saída, quanto mais eu corria mais estrada aparecia em minha frente, e de repente aquele lugar claro e colorido foi ficando escuro e sombrio, agora era o medo que me invadia, a cada passo que eu dava escurecia mais e mais e mais, até que… acordei assustada, suando frio e tremendo. Dentre as várias reações que tive no momento, a maior foi de alívio. Tentei lembrar quem eu era, as pessoas que eu amava e as que me amavam, e também as que não gostavam de mim, tentei lembrar da minha infância, das brincadeiras, da escola, das brigas, das paixões, das dores, de todas as alegrias e sofrimentos, de todos os momentos inesquecíveis. Estava tudo ali, 15 anos de história e memória, guardados com todo o carinho dentro de mim. Fiquei satisfeita em saber que o meu eu permanecia intacto e que eu poderia caminhar tranqüila, sem medo de explodir nenhuma mina.
-Anyele Matos
Texto para o Blorkutando - Tema – 127ª semana.

Por quanto tempo?

Depois de tanto tempo de insônia, aflição e agonia, fui obrigada a tomar esta decisão. Era o passo que daria rumo a minha vida. Eu tive de escolher, fui obrigada a isso: te esconder  pra sempre bem distante, inalcançável. Mas só consegui encontrar esconderijo dentro de mim, por isso o escondi lá. Fiz isso lastimando, com a plena certeza de que jamais encontraria ninguém como você, mesmo que eu passasse a minha vida inteira procurando, em todos os planetas, galáxias, ou no universo inteiro. Mas foi a única alternativa, ainda assim, quando tenho saudades, volto lá pra te visitar. É inevitável, mas doloroso, portanto, tento suportar ao máximo. E ainda depois de tanto tempo, continuas a me afligir, minha vida ainda continua sem rumo, ainda continuo sem sono, não tenho mais apetite. E não sei por quanto tempo. Minhas mãos ainda congelam, meu estômago ainda embrulha e meu corpo ainda treme, só por cogitar pensar em ti. E não sei por quanto tempo. Dói tanto quando meus pensamentos fogem ao seu encontro e não te alcançam. A decisão foi minha, eu sei, mas às vezes necessito te lembrar, e às vezes lembro sem precisar e nem perceber. Mas acabo lembrando sempre. E não sei por quanto tempo. E agora me encontro assim, parasitando, sugando vida de tudo que eu consigo pra tentar continuar vivendo. Mas não sei por quanto tempo conseguirei.
Anyele Matos

Olhar fatal


E naquele momento em que seu olhar discreto, profundo e cortante encontrou o meu, foi como se minha alma estivesse sendo exposta diante de ti, tão clara como as nuvens no céu num dia brilhoso. Aquela certeza em seu olhar atravessou meu ser como um veneno, lenta e irrevogavelmente, de forma fatal. Senti como se as 100 trilhões de células do meu corpo estivessem sendo congeladas uma a uma. Por fora, continuei intacta, tão indiferente e cautelosa quanto você, no entanto, os sentimentos eram distintos. Foi assim, da forma mais comedida, reservada e profunda que você me foi revelado e que agora me revelava pra mim mesma, tão imperceptivelmente cruel, soltando como jorros sobre mim tudo que eu lutava pra esconder, mas que talvez você já tivesse sabido há tempos. Sempre com atitudes prudentes e cuidadosas um com o outro, nunca consegui te abraçar, e talvez eu nunca consiga, mas agora eu entendo: nunca foi necessário, nem apropriado, pessoa de poucas palavras e menores atos, você nunca precisou de nada disso pra se expressar, como naquele exato momento, em que bastou um olhar para que nos “enxergássemos”. 

Anyele Matos

Esboço de ideias sobre a verdade

O mistério da verdade não está em sua inexistência, pois ela existe, mas está nas suas multifaces. A verdade é o que acreditamos que ela seja. Portanto, tudo é verdade? Nada é verdade? Ou a verdade é tudo? Depende, mas estamos tendenciosos a acreditar sempre no que nos é menos doloroso. Talvez por isso nos machuquemos tanto. Buscar por tantos significados, por uma verdade, sobre tudo, nos deixa de frente com muitas respostas, e nos apropriamos de uma, que nem sempre é a mais correta, mas a mais alcançável. Ao nos depararmos com as mentiras da verdade ficamos descrentes da mesma, mas uma pessoa descrente da verdade, não tem nada em que crer, portanto, precisa continuar acreditando em algo. Mas o segredo está ai, não entendemos que não precisamos de todas as respostas. As perguntas sobrevivem e nos envolvem por muito tempo, até desvendarmos seus enigmas, a partir daí, elas perdem o valor. A beleza da verdade consiste em sua indefinição, a partir do momento que a definimos, não tem mais importância. Mas é essa dialética que é determinante e instigante. Só conseguimos encontrar sentido nas coisas quando nos arriscamos nessa fantástica aventura do inesperado. Ainda assim, é fascinante essa viagem em busca da verdade. Mas só é fascinante, por existir tantos caminhos, tão cheios de convicção. E por sabermos, talvez, que sempre existirão caminhos pra percorrer.

Anyele Matos

“A verdade é uma coisa bela e terrível, e portanto deve ser tratada com grande cautela.”
(J. K. Rowling)

Motivos para encontrar motivos


Todo dia eu me pergunto: “porque?”, mas nunca encontrei uma resposta. Mas cheguei a uma conclusão: não vale mais a pena, cansei de tentar entender, tentar aceitar. É injusto e pronto! Está tudo fora de lugar no mundo inteiro, nada está como deveria estar, desde que Eva comeu o fruto proibido, desde que o mundo é mundo cometemos erros fatalmente fatais. E sempre procuramos a quem culpar, mas mesmo que existam culpados, não vai fazer nenhuma diferença, nunca fez nenhuma, só a de camuflar a verdade com a máscara da justiça injustiça.
Mas nesse momento, eu preciso de motivos pra encontrar motivos. Mas estou quase acreditando que eles não existem. As coisas simplesmente não precisam de motivos para ser. Mas eu preciso. Desculpa se sou totalmente errada e estranha, mas eu não consigo ser sem motivos.
Eu tô falando de sentimentos drogaa! Tô falando do que vem de dentro, sem obrigação ou explicação. Será que ninguém mais enxerga isso? Será que ninguém mais sabe o que é isso? Definitivamente, cheguei a conclusão de que não há mais motivos pra nada, não há mais motivos pra sentir.
Escrevo com uma certeza profunda de estar sendo justa injusta. Mas também cansei de tentar ser justa quando tudo ao meu redor parece estar fora de lugar, quando tudo que consigo enxergar tem cores frias de descaso e abandono com manchas de hipocrisia. Cansei de viver cercada de motivos invisíveis a todos.
                                         
Anyele Matos

Muros


Me escondi por muito tempo, dentro de mim mesma, criando muros altos e frágeis. Às vezes eu mesma os quebrava por desatenção, e sempre me machucava também, mais frágil que os muros, eu não suportava a exposição intensa. Fui obrigada a construí-los mais fortes, colocar pedras maiores e maior quantidade de concreto. Tudo ficou mais duro e distante e difícil de se alcançar, inclusive eu, fui me petrificando junto ao muro, fui me trancando por dentro, me escondendo do que poderia me dar medo, sem saber que ele se escondia dentro de mim. Mas o que era sensível parou de sentir. Não, isso era apenas em que eu acreditava. O que realmente aconteceu, foi que fui suprimindo meus sentimentos, mas lá no fundo eu continuava sentindo, eu sempre senti. E agora, estou sentindo mais do que nunca, de forma que, não dá mais pra me esconder, pra continuar ‘protegida’ nos muros. Simplesmente não consigo mais conviver com o medo de sentir, ou, não quero mais, estou decidida a deixar meus sentimentos saírem, depois de tanto tempo acorrentados.

Anyele Matos 

 
"As mentiras são uma pequena fortaleza onde você pode se sentir seguro e poderoso. Dentro de sua pequena fortaleza de mentiras você tenta governar sua vida e manipular os outros. Mas a fortaleza precisa de muros, por isso você constrói alguns. Os muros são as justificativas para suas mentiras. Você sabe, como se estivesse fazendo isso para proteger alguém que você ama ou para impedir que essa pessoa sinta dor. Qualquer coisa que funcione para que você se sinta bem com as mentiras.” (William P. Young)

Se amar é preciso, começem a doar amor!

Se querem que ela aprenda sobre o amor, mostrem-na o que é amar.
Se querem cobrar sentimentos, antes é preciso que sintam,
Ela está a espera de algum, para que possa ser preenchida,
Pode ser qualquer um, mas é melhor que pelo menos dessa vez seja amor.
Não, não foi. Como sempre, todos esquecem do amor.
É um ciclo instransponível da vida, nascemos rosas com delicadas pétalas sem cor e pouco a pouco vão nos colorindo.
Às vezes, por esquecerem de nos ensinar a amar, nos tornamos uma rosa fria, insensível e de cor desbotada, e passamos a ferir mais do que encantar.
Uma certa vez, ao ver pessoas sangrando por sua causa, uma certa rosa começou a se sentir culpada e sentiu que não estava certo, e então procurou mudar.
Pobre rosa, inocente, sem saber que não tinha culpa nenhuma.
Começou então a pedir ajuda a outras rosas, para que ela pudesse ser mais agradável e cativante, e saiu em busca de doações.
- Alguém se habilita a doar amor?
Ah, ela encontrou! Por incrível que pareça, encontrou alguém disposto a lhe doar amor, e depois outro alguém e depois outro.
No início, era algo totalmente desconhecido e por estar tão habituada a ser insensível como todos, não reconheceu-se capaz de sentir
Demorou pra distinguir aquilo que suavizava o ar e trazia uma brisa pura e um ar cheio de magia.
Mas no final, ela gostou tanto, sentiu-se tão feliz e humana, que passou a doar e receber amor por todos os cantos,
Ela foi se enchendo de cores, até que cada pétala tivesse uma cor diferente e depois trocava de cores.
Foi dessa forma que uma rosa comum que desconhecia o amor, decidiu não mais ferir, querendo ser bela, e ao descobrir sobre o amor, passou a amar, e não só isso, ela queria que todos amassem também, que pudessem descobrir aquele sentimento transformador. Foi indo em busca de mudança, trocando pétala por pétala de todas as rosas, cada uma com sua cor diferente, que ela conseguiu transformar seu jardim, no lugar mais colorido já visto na história.

Anyele Matos