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sexta-feira, 18 de março de 2011

Bela Adormecida


Minha vista está cansada. De tudo isso. De tudo que vejo.
De tudo de errado que vi e continuo, mas vejo outros fingindo não verem.
De tudo que nunca existiu e insisti em enxergar mesmo assim.
E de tudo que estava a minha frente e fiz questão de não enxergar.
Minha vista se cansou de tudo ou do nada que viu em minha vida.
Quero fechar os olhos.
Quero enxergar paisagens distantes,
Vislumbrar a beleza e a luz da escuridão do que não se pode ver.
Quero habitar outros planetas, outros ecossistemas, outras galáxias.
Quero a vastidão e a imensidão do vazio das minhas visões jamais vistas,
Pois sei, que são melhores que as que passam por meus olhos abertos todos os dias.
Prefiro enxergar de olhos fechados.
Quero descansar minha vista,
Quero a possibilidade de um momento de trégua,
Quero adormecer, por um longo tempo, esquecer tudo isso aqui.
Quero fugir – de uma realidade cansativa – para viver de forma não menos real, enxergar belezas mais belas que essas.
De qualquer modo, depois disso, nada mudará, quando eu abrir os olhos, tudo voltará a ser exatamente igual ao que sempre foi,
E minha visão continuará a mesma, intacta,
E as mesmas imagens continuarão a perseguir os meus olhos.
Não há como fugir.

Anyele Matos

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